O fim do retorno nos produtos financeiros de capital garantido deixa os aforradores mais propensos a aceitar propostas que colocam as poupanças em risco. E mais vulneráveis aos BPP, BPN e GES desta vida.
Quando o dinheiro rende quase o mesmo no banco que debaixo do colchão, é fácil perder o discernimento e aceitar correr riscos por uma suposta remuneração mais elevada. Colocarmos a nós próprios algumas questões antes de decidir pode evitar dissabores. Desde logo, se estamos na disposição de correr o risco de perder capital em troca da possibilidade de o ver crescer?
Um dilema que não se coloca apenas ao pequeno investidor. Os fundos que têm responsabilidades com pensões para pagar, têm vindo a relaxar as regras de gestão para poderem assumir mais risco, em busca do retorno que precisam para entregar aos pensionistas. O mesmo acontece com fundos e bancos de investimento, pressionados a entregar resultados e a bater a concorrência.
Outra questão que o aforrador se deve colocar quando é abordado com uma proposta é se os retornos que ela promete estão alinhados com o que se pratica no mercado para a mesma classe de risco, ou se são invulgarmente superiores. As taxas de juro de zero vírgula muito pouco são o ecossistema perfeito para alguém se deixar levar por propostas mal-intencionadas. No limite, ser vítima de fraude. Se o produto parece bom demais para ser verdade, provavelmente é uma mentira.
Os juros oferecidos no papel comercial da Rio Forte e da Espírito Santo International, bem acima da taxa média dos depósitos (que já vinha em queda acentuada) foram um poderoso argumento para convencer os clientes. A remuneração serviu de chamariz. Para um investidor experiente teria servido também de alerta. Pagando mais, é porque tinha risco, mesmo sendo impossível antecipar o desfecho conhecido. Como diz o chavão: “Não há almoços grátis”.
Os clientes poderão também ser aliciados por produtos complexos, difíceis de entender. Compreender bem todas as características e riscos antes de investir é um passo óbvio, mas que muitos descuram. E não basta confiar na cara familiar que nos aborda. Todos tínhamos o BPP, o BPN ou o BES como instituições reputadas e sérias. Os comportamentos de risco, seja dos clientes, seja das instituições financeiras, crescem neste ambiente. O que exige atenção redobrada dos aforradores. E vigilância apertada da supervisão.